O Campeonato Brasileiro de 2012, que começa no próximo sábado,
promete ser o mais rico da história. Graças ao novo contrato de transmissão com
a TV Globo, assinado em 2011, o futebol verde-amarelo apresentou um crescimento
de 27% das receitas no ano passado. O problema é que as dívidas subiram ainda
mais.
Em
estudo divulgado pela empresa de consultoria BDO, os clubes geraram R$ 457
milhões extra de receitas em 2011 em relação a 2010. No mesmo período, o
endividamento ficou R$ 628,4 milhões maior. “Esse nível de endividamento
assusta. Você vê que os clubes estão fazendo mais dinheiro e acha que as
finanças estão ficando equilibradas. Mas quando olha para os valores de
endividamento, não é isso que está acontecendo”, analisa Amir Somoggi, diretor
da área de consultoria esportiva da BDO.
A análise foi feita com base no balanço de 20 times do Brasil:
Atlético-MG, Botafogo, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Figueirense, Flamengo,
Fluminense, Goiás, Grêmio, Grêmio Barueri, Internacional, Palmeiras, Ponte
Preta, Portuguesa, Santos, São Caetano, São Paulo, Vasco da Gama e Vitória.
Juntos,
esses clubes geraram receita total de R$ 2,14 bilhões, contra R$ 1,68 bilhões
de 2010. O crescimento foi de 27%, gerando R$ 457 milhões em dinheiro novo para
o futebol. Os números do endividamento são ainda maiores: o total de dívidas
ficou em R$ 3,86 bilhões em 2011, frente os R$ 3,23 bilhão de 2010. A evolução
foi de 19%, representando um aumento no endividamento de R$ 628,4 milhões.
TV mantém Corinthians como o mais rico
No ano passado, os clubes brasileiros modificaram a forma de
negociação dos direitos de transmissão de TV. Antes, o Clube dos 13 era o
responsável pelo acordo. Desde o ano passado, a negociação se tornou
individual. Isso fez com que a TV ganhasse ainda mais importância na saúde
financeira do futebol nacional. Segundo o estudo, é a principal fonte de renda
dos clubes, responsável por 36% das receitas. Em 2007, essa participação era de
apenas 22%.
Nesse
cenário, o clube mais rico do país continua sendo o Corinthians, que assinou o
contrato mais lucrativo. O time recebeu R$ 112,5 milhões das cotas de TV em
2011. Somados às receitas com patrocínio, venda de atletas, bilheteria, clube
social e outras fontes, corintianos ganharam R$ 290,5 milhões. O segundo na
lista é o São Paulo, com R$ 226,1 milhões, que tem como destaque os ganhos com
o Morumbi, que, mesmo sem receber jogos de rivais é o responsável por 18% dos
ganhos tricolores.
O
Internacional aparece em terceiro lugar, apesar de receber apenas a sétima
maior verba de TV. Os gaúchos, porém, compensam a diferença com a renda
proveniente dos sócios, que representam 21% de suas receitas. O Santos é o
quarto da lista, graças aos ganhos com bilheteria (em que é o mais rentável do
país) e patrocínio (ancorado pelo fenômeno Neymar). O Flamengo, que recebeu a
segunda maior cota de TV (R$ 94,4 milhões), aparece em quinto lugar na lista.
Um dos índices criados pela consultoria para analisar a saúde
financeira dos clubes é o Índice Futebol. Ele mede quanto os clubes gastam com
o futebol em relação à receita geral. “É uma forma de analisar quanto cada
clube utilizou de sua receita no ano para a manutenção do departamento de
futebol. Com isso, você pode ver se o clube está respeitando seus limites de
gastos”, explica Somoggi.
Em
2011, o Custo Futebol dos 20 clubes ficou em 72,4%, com gastos de R$ 1,55
bilhão em 2011 contra receitas de R$ 2,14 bilhões. Em 2010, o índice estava em
78,3% (gastos de R$ 1,31 bi contra receitas de R$ 1,68 bi). “Apesar dos custos
com o departamento de futebol terem aumentado, o Custo Futebol diminui já que o
aumento das receitas foi maior do que o aumento dos gastos com o futebol”,
completa.
Endividamento cresce 89% em cinco anos
A
maior parte desse aumento, porém, não vem dos problemas dos times com o Governo
Federal. Graças à Timemania, encargos fiscais com o Governo Federal (FGTS, INSS
e Receita) estão controlados, diminuindo sua participação no volume total de
endividamento dos clubes. Outras dívidas, no entanto, aumentaram. “Outras
dívidas, que podem ser empréstimos bancários ou adiantamento das cotas futuras
de TV, por exemplo, são o grande problema dos clubes hoje. Nos últimos três
anos, 82% do crescimento do endividamento dos clubes não foi proveniente de
passivos fiscais a serem parcelados pela Timemania”, analisa Somoggi.
Com
isso, todos os 20 clubes apresentaram déficits do exercício em 2011 de R$ 366,1
milhões. Em 2010, esse déficit foi de R$ 333,7 milhões. Nesse quesito, o time com
os maiores prolemas é o Botafogo, que apresentou balanço de R$ 166,6 milhões
negativos em 2011, com a entrada de uma série de dívidas provindas do
parcelamento da Timemania. Excluídos os valores do Botafogo, os clubes
brasileiros continuam deficitários (gastam mais do que ganham), mas a melhora
nos déficits foi de 34%.
Com
isso, a conclusão da análise da BDO é simples: aproveitando o momento de
crescimento das receitas, o foco da gestão dos clubes para 2012 deveria ser “um
controle mais efetivo dos custos com futebol e redução do endividamento, que
gera pesadas despesas financeiras”.
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